Se tem uma coisa que toda noiva conhece é a pressão para ter filhos. Mal começam os preparativos para o casamento e as perguntas sobre um bebê já começam. Depois do casamento, e logo depois mesmo, a pressão para gerar um filho só aumenta. Mas o que muitas pessoas não conseguem compreender é que ter filhos não é o grande objetivo de uma união, é uma opção de cada casal.
Texto retirado do blog Escreva, Lola, escreva!. O texto abaixo, é uma resposta à um e-mail enviado para a autora, Lola Aronovich, professora da UFC, doutora em Literatura em Língua Inglesa pela UFSC, feminista e de quem somos fãs!
"A pressão pra ter filhos realmente é grande, e maior pra mulher que pro homem. Eu me lembro de muitas vezes que fui cobrada por quase desconhecidos pra "cumprir meu papel de mulher", mas o maridão raramente ouviu uma cobrança parecida. Acho que a cobrança aumenta entre os 30 e 40 anos, porque as pessoas veem o período como uma última chance de te salvar. E também quando a gente está perto de grávidas. É batata que alguém vai perguntar: "E o seu, vem quando?", como se você fosse uma mulher incompleta por não ter filhos.
Nunca fez parte do meu projeto de vida, nem do maridão, ter filhos. Nunca me imaginei mãe, nunca foi um sonho. Talvez por eu ser feminista desde tão jovem, eu nunca acreditei na ideia de que mulher precisa ser mãe pra se realizar, nem que mulher sem filho é "seca", nem em instinto maternal (uma construção social, como qualquer pessoa que estuda o mínimo de história pode constatar). Todo esse condicionamente passou longe de mim. Também tem um pouco de conformismo e até egoísmo na minha decisão com o maridão: nossa vida tá boa como está, pra que mudar?
A realidade é que o número de casais sem filhos só aumenta. Hoje já somos 21,7% dos lares, de acordo com o IBGE. Aliás, a "família tradicional" (pai, mãe, filhos) já não é mais maioria no Brasil, o que pros conservadores é sinal que o apocalipse está próximo. Segundo o Censo 2010, as brasileiras têm cada vez menos filhos e são mães mais tarde. A taxa de filho por mulher caiu quase 22% na última década, e hoje é de 1,86 filho por mulher (o que pode ser um problema, porque nossa população vai encolher, mas aí já é assunto pra outro post).
As mudanças são rápidas, mas a mudança de mentalidade, nem tanto. Muita gente ainda fala do Brasil como se fosse comum, hoje em dia, ter cinco, dez filhos. Quando você apresenta essa estatística pra eles (média de filhos por brasileira de 1,86), simplesmente não acreditam. Se não creem em números concretos, como é que vão acreditar que mulheres podem ser o que quiser na vida, inclusive não ser mães? Que o "valor" de uma mulher não está associado a sua capacidade de se reproduzir (ou de decorar o mundo, ou de manter-se virgem)? Você conseguiu abrir sua cabeça, mas tem gente que vai levar pro túmulo os mesmos valores de seus tataravós. Essa gente vai morrer frustrada, porque viu que foi incapaz de brecar as mudanças. Vai morrer crente que o mundo está um lixo mesmo, lamentando deixar pros filhos o legado de sua miséria.
A miséria dessa gente, no caso, é que o mundo mudou pra melhor e eles não acompanharam.
E lembre-se que, se você tivesse um filho, alguém te cobraria pra ter mais um. Se você tivesse dois meninos, alguém iria falar pra você tentar ter uma menina. Se você tivesse três, alguém te diria que é filho demais. E se você estivesse grávida, todo mundo iria passar a mão na sua barriga. Ou seja, intrometidx é o que não falta.
Não entre em pânico! Tome todas as precauções. Infelizmente, você fazer uma ligação de trompas ou seu marido fazer uma vasectomia é muito difícil. Muito médico se recusa a realizar essa cirurgia em alguém sem filho. Continue tomando sua pílula, torça pra que a pílula masculina venha logo, acompanhe o ciclo do seu corpo, e tenha cuidado com qualquer medicação que possa alterar o funcionamento da sua pílula. Assim as chances de engravidar são pequenas. Mas nada de paranoia. Prevenção é uma coisa, pânico de engravidar é outra.